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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Reflexão desportiva de final de ano


(crónica de Nuno Gil)

Estamos a chegar ao final de mais um ano e nesta altura é habitual formular votos para o novo ano que se aproxima.
Mas tão importante como pensar no que se quer para o novo ano é refletir sobre o que se fez no ano que está a terminar.
E é este o desafio que faço a todos os leitores, nesta minha última crónica do ano.
É importante que todos aqueles que de diferentes formas estão ligados à prática desportiva, reflitam sobre as suas práticas.
E eu levanto aqui algumas perguntas que podem servir de base a essa reflexão.

Aos responsáveis governativos nacionais, regionais e locais:

   Acreditam que existe realmente um sistema desportivo que promova os hábitos de atividade física e de atividade desportiva?
   Para quando a criação de um programa de desenvolvimento desportivo a longo prazo que realmente fomente a prática de atividade física e desportiva?

Aos dirigentes federativos e associativos pergunto:

   Serão os quadros competitivos um factor limitativo da evolução dos atletas e da modalidade, ao verificar-se em alguns deles resultados completamente desnivelados com diferenças abismais nos resultados, impossibilitando assim, as equipas menos hábeis de trabalhar as competências ofensivas do jogo e as mais hábeis de desenvolverem competências defensivas?
   Serão os escalões organizados em intervalos de dois anos promotores da igualdade de oportunidade ou são mais um grave fator de seleção precoce desfavorável aos atletas atrasados maturacionalmente? Porque estão os escalões internos organizados em intervalos de dois anos e ao nível das seleções internacionais em intervalos de um ano?

Aos dirigentes desportivos:

   Como funciona o processo de seleção de treinadores para o vosso clube? Têm no clube um perfil de treinador claramente definido para cada uma das equipas/escalões?
   Está o vosso clube organizado de forma a fomentarem o gosto pela atividade física desportiva e a promoverem uma optimização do rendimento desportivo?
   O modelo de “arquipélago", em que cada equipa funciona como uma ilha autónoma dentro do clube, é o melhor modelo de clube?
   O programa de desenvolvimento desportivo do vosso clube está atualizado e é do conhecimento de todos os atletas e respetivos encarregados de educação?
   Os objetivos do clube estão claramente definidos e são do conhecimento de todos?

Aos treinadores desportivos:

   Utilizam metodologias de treino adaptadas aos níveis de desenvolvimento maturacional dos vosso atletas?
   A vossa postura e comportamento em treino e/ou em competição é a mais apropriada?
   Os objetivos definidos e meio utilizados para os alcançar são os mais apropriados ou colocam em causa o desenvolvimento integral dos vossos atletas a longo prazo?
   Consideram que têm os conhecimentos mínimos para promover o desenvolvimento integral e harmonioso dos vossos atletas?

Aos árbitros:

   Será a vossa postura para com o jogo e intervenientes a mais adequada?
   O não apoio da parte dos árbitros mais experientes aos árbitros mais jovens, não será por si só um enorme constrangimento ao normal desenvolvimento de competência destes?
   Qual o vosso papel no jogo?

Aos pais e espectadores:

   Será a vossa conduta na bancada a mais adequada?
   Os objetivos e a pressão que colocam nos atletas, em especial nos mais jovens, são adequados?
   O permitir a troco de vitórias que os vossos filhos e conhecidos sejam violentados mentalmente e até fisicamente, é aceitável?
   A atitude para com os árbitros, alguns deles muito jovens, é a mais adequada?

Aos atletas:

   A vossa atitude no treino e na competição é a mais adequada à melhoria das vossas competências?
   A vossa postura no campo é exemplo para os mais novos e para todos aqueles que assistem aos vossos jogos?

Estas são só alguns exemplos questões para as quais deveríamos frequentemente procurar resposta. E não estou com isso a dizer que está tudo mal, pois da nossa reflexão podemos concluir que a nossa forma de estar e agir é a mais correta, no entanto caso raramente nos questionemos, menor será a probabilidade de alterarmos os comportamentos menos adequados.

E como este blogue é de Abrantes, deixo uma questão extra a todos aqueles que trabalham naquela que é a minha modalidade favorita, o futebol. Há cerca de 10 a 12 anos atrás Abrantes tinha uma equipa em cada um dos campeonatos nacionais existentes, Sport Abrantes e Benfica nos nacionais de iniciados e juvenis e o Abrantes Futebol Clube nos nacionais de juniores e seniores. Hoje não temos nenhum clube a disputar campeonatos nacionais em qualquer escalão. E a minha questão é simples. Porquê?

Votos de um bom final de 2015 e de um melhor ano de 2016.

Saudações desportivas e até à próxima crónica.

Nuno Gil
Licenciado em ciências do desporto, pela FCDEF-UC
Mestre em treino do jovem atleta, pela FMH-UTL
Doutorando em ciências do desporto, na FCDEF-UC
Professor de educação física, na escola secundária Dr. Manuel Fernandes
Ex-treinador desportivo

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