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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Como combater os momentos críticos em competição


(excertos do artigo)

"Todos os atletas já viveram momentos críticos em competição. Seja por maus momentos de forma física, por imprevistos, por incapacidade de gerir a pressão, por instabilidade emocional, por falta de confiança ou por não conseguir a concentração necessária para se superar. Estes atletas viram a sua performance afectada e ficaram aquém dos resultados. Quando isto acontece de forma repetida, o problema vai aumentado até chegar a ser crítico, destruindo a confiança, eficácia e a esperança de voltar a recuperar o seu nível ótimo de competição. Uma boa preparação mental por parte do atleta, torna-se numa vantagem competitiva, evitando percalços e aumentando a capacidade de gerir a pressão e tensão negativa nos momentos críticos.

DA INCONSISTÊNCIA AO PROBLEMA CRÍTICO

Quando a inconsistência competitiva começa a ser a regra, quando o atleta faz todos os esforços ao seu alcance para tentar combater os maus resultados e não é bem sucedido, o problema cresce até ao ponto de deixar marcas profundas de descredibilização da capacidade do atleta. Gera-se um ciclo negativo de crença sobre a capacidade de ultrapassar o problema, gerando como que um “trauma” à competição.
 
(...) Conhecer o perfil psicológico esportivo do atleta é uma mais valia para perceber como é que este funciona em situações em que a aplicação das capacidades esportivas mais contam. Isto quer dizer que a performance esportiva deve ser vista no contexto da interacção entre significação da personalidade, comportamentos e as variáveis psicofisiológicas, levando ainda em consideração os resultados esportivos derivados da análise dos momentos críticos em competição.
 

O QUE SÃO MOMENTOS CRÍTICOS

Momentos críticos podem ser definidos como casos ou situações que são fundamentais para o sucesso de uma competição. Estes momentos testem a habilidade dos atletas para terem o melhor desempenho quando é mais importante, exigindo um controlo extraordinário sobre os processos que ocorrem entre o corpo e a mente. Num jogo de ténis, um momento crítico pode ser uma oportunidade de quebra de serviço contra um jogador com um excelente serviço. No golfe, um momento crítico pode envolver a execução de uma tacada para atingir o green e ter a hipótese de fazer um birdie.
 

TRAÇOS PSICOLÓGICOS

Alguns atletas apresentam um constelação de traços de perfil psicológico em competição, que podemos chamar de constelação de fatores de risco. No Modelo de Elevado Risco de Percepção de Ameaça (MERPA) desenvolvido pelo Professor Dr. Roland A. Carlstedt. Este modelo tem por objectivo prever os riscos específicos das interacções entre corpo e mente que contribuem para o desenvolvimento dos sintomas físicos e psicológicos. Ele isolou alguns comportamentos primários de 1ª ordem:
  • Habilidade hipnótica, baixa ou elevada
  • Neuroticismo elevado/efeito negativo
  • Coping repressivo, baixo ou elevado.
De acordo com cada constelação particular derivada destas três variáveis de traços, assim também será proposta uma intervenção especifica para cada atleta de acordo com o seu perfil psicológico e dos comportamentos apresentados em competição.
 
(...) 

ESCLARECIMENTO

Todos os atletas passam por momentos críticos em competição, só que uns conseguem controlar isso e sair desse estado, outros não. O receio não é o problema, o que se torna no problema é a incapacidade de alterar os estados do atleta. É aqui que o atleta tem de tomar consciência e investir algum do seu tempo e dedicação. Investir num programa de treino mental é importante para uma eficaz reprogramação mental para o êxito.
A reter: “ O corpo está à escuta da mente.”
É preciso ir aperfeiçoando a forma como o atleta comunica consigo próprio. O atleta deverá aprender a identificar algumas das coisas que o prejudicavam, e é a partir delas que tem de ir ganhando confiança (ou seja, tem de ir ajustando e aferindo as estratégias, até que estas funcionem) sem que se sinta diminuído, quando por vezes ainda não são suficientemente eficazes. Este é um trabalho continuo que acredito dar frutos quando aplicado de uma forma sistematizada.
 

PORQUE É QUE O ATLETA FICA RECEOSO

Aquilo que o atleta pensa e faz a seguir a ter identificado uma situação critica ou um receio, é exactamente aquilo que o faz evitar ou não esse próprio receio ou a sua consequência (que por vezes são exactamente a mesma coisa). A sensação de receio irá funcionar como um marcador/identificador que dá um alerta. Se a percepção lida for de ameaça, a partir deste alerta, irá activar o perfil psicológico competitivo do atleta, irá accionar o conjunto de traços que fazem o atleta ficar fora da sua Zona de Ótimo Funcionamento. Se o atleta pensa que não irá conseguir um bom desempenho porque se está a sentir receoso ou com falta de confiança (porque no passado assim aconteceu) e diz para si, que provavelmente desta vez também se irá sair mal, então sair-se-á mal mesmo. 
 

DESMITIFICANDO O PROCESSO

O passado é isso mesmo, passado, o atleta deverá encarar o futuro com uma nova visão das suas capacidades – a capacidade para tomar na sua mão aquilo que quer fazer, pois estará a treinar o processo para chegar onde acredita que chegará.
 
(...)
 

O PROCESSO DE COMBATE AOS MOMENTOS CRÍTICOS:

  • Acreditar que não consegue.
  • Reverter a situação.
  • Orientar os pensamentos.
  • Passo a passo.
  • Mudança de crenças.
(...) 
 

Apresento em seguida alguns exemplos das estratégias mentais a usar nas rotinas pré-competitivas :

  • Respiração (inspirações e expirações profundas) o facto de dirigir a atenção para a respiração e para o ritmo da respiração, permite ganhar percepção de controlo sobre si próprio, o que é bom pois desta forma evita que os estímulos aleatórios vindos do exterior (ambiente competitivo) perturbem ou incomodem.
  • Dirigir a atenção:
    - Nesta técnica deverás dirigir a atenção para estímulos ou situações que percepcione como benéficas para si. Ou pode dirigir a atenção para si próprio, para o seu corpo ou partes do corpo (induzindo sensações de relaxamento de tensão, energéticas, entre outras).- Pode ainda dirigir a atenção para imagens, imagens de boa execução de movimentos técnicos do seu esporte, imagens de superação, imagens de experiências positivas de outras competições bem sucedidas, imagens de eficácia, de visualização do treinador e amigos a dar os cumprimentos pelos bons resultados.- Pode ainda dirigir a atenção para os seus pensamentos, aqui os pensamentos podem tomar a forma de palavras, chama-se auto-verbalizações silencioasas, estas auto-verbalizações devem ser orientadoras face ao seu objectivo, do género: “Força, acredita, vamos lá, garra, sou capaz.”
  • Visualização e verbalização. Emparelham-se auto-verbalizações com imagens da competição: Exemplo na natação - sair rápido ao tiro, nadar descontraído, voltar e empurrar forte, respirar …., braçadas longas e rápidas, resistir à dor.
  • Concentração. A concentração tem conteúdo, ou seja, durante o aquecimento e a competição a concentração é contínua, nós estamos sempre concentrados em alguma coisa. Desta forma deveremos ser nós, de forma intencional a orientar aquilo em que nos queremos concentrar (assunto, coisa ou situação) e depois orientar o processo face ao objectivo (o que pensar, dizer, ou sentir) necessário para obter um ótimo resultado. O conteúdo é um conjunto de indicações que damos a nós próprios e que acreditamos que nos servem para facilitar a obtenção daquilo que desejamos.
  • Crenças adaptativas. O atleta deverá trabalhar as crenças que tem em si próprio. Se o atleta acredita que todos os outros atletas são melhores que ele, logo esta é uma crença negativa e incapacitante que vai sabotar tudo o que fizer para cumprir o seu objectivo. O atleta coloca-se num estado de descrença face àquilo para o qual tem treinado. Isto era apenas um exemplo, não quer dizer que aconteça com todos os atletas que passam por momentos críticos em competição. Mas se isto acontece, tem de se erradicar esta crença, pois ela não corresponde à realidade. Tal como esta crença existem outras, o atleta deverá tentar perceber que crenças tem que possam prejudicá-lo face ao seu objectivo. A sua tarefa será identificar o que acha que o pode prejudicar.
  • Confiança. O atleta deverá investir na reestruturação daquilo que pensa acerca de si, e acerca das suas habilidades. Deverá adoptar a perspectiva de que com esforço e trabalho conseguirá melhorar. Os resultados constroem-se com o treino e a dedicação, com a experiência de derrotas e vitórias. Não existem derrotas, existem resultados que nos servem, para deles retirarmos informação para melhorar. Esta informação chama-se feedback, o feedback é sempre construtivo. Mesmo perante resultados menos bons, se tivermos uma atitude positiva poderemos sempre retirar informação que nos vai servir para melhorarmos o desempenho. Se experimentamos algo que não funcionou (em termos de resultado é negativo) mas em termos de aprendizagem é sempre positivo, desde que se retire informação (porque razão não funcionou?) que nos permite ir emendar, alterar ou acrescentar alguma coisa, para que na próxima oportunidade possa funcionar e aumentar a probabilidade de ser bem sucedido.

CONCLUINDO

A psicologia esportiva tem contribuído com um vasto número de estudos, práticas e estratégias que devidamente aplicadas podem contribuir para o aumento de rendimento esportivo e igualmente contribuir com uma resposta eficaz para alguns dos problemas apresentados pelos atletas, que lhes diminui o seu desempenho competitivo. Eu acredito na hipótese que os mecanismos do corpo/mente que levam à hiper-reatividade fisiológica, resultando nas queixas dos atletas, prejudicam o desempenho esportivo. Os atletas que conseguem controlar alguns aspetos mentais significativos, tais como o foco atencional, atividade cognitiva, intensidade da excitação, mobilização energética e estratégias de lidar com situações desfavoráveis, são mais capazes de expressar todo o seu potencial competitivo."

Autor: Miguel Lucas

Nota: Miguel Lucas é licenciado em Psicologia pelo Instituto Superior de Línguas e Administração de Leiria. Exerce psicologia clínica em consultório privado e Psicologia Desportiva no acompanhamento direto a atletas e clubes desportivos. É também preparador mental de atletas e equipes desportivas, treinador de atletismo e palestrante nas áreas do rendimento desportivo, motivação e psicologia. Miguel vive em Leiria. Nos seus tempos livres gosta de ler, praticar desporto e aproveitar a companhia dos seus amigos e familiares.

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